segunda-feira, 29 de março de 2010

*Factores envolvidos no esquecimento

O esquecimento não pode ser encarado como uma lacuna da memória, com uma doença. Ele é condição da própria memória, acabamos por esquecer para continuar a reter, o esquecimento tem uma função selectiva dado que afasta materiais que não são úteis ou necessários. Assim, o esquecimento pode atingir a fase de concepção, armazenamento ou de recuperação.
O esquecimento é definido pela incapacidade de reter, recordar ou reconhecer uma informação. Há lesões ou doenças cerebrais que podem provocar a perda de informação que vai desde o esquecimento à amnésia ou perda de memória.
Actualmente consta-se que o esquecimento não é produto apenas de um facto, mas da convergência de vários factores.
O desaparecimento e alteração do traço amnésico, explica o esquecimento que reside no desaparecimento do traço fisiológico registado no cérebro – enframa – devido á passagem do tempo. O esquecimento teria origem na perda de retenção provocada pela não utilização dos materiais armazenados. O traço enfraqueceria devido á falta de repetição de exercício. Porém, não se pode reduzir o esquecimento a este factor, até porque o esquecimento tem origem fundamentalmente na deformação dos conteúdos retidos, como a distorção provocada pela atribuição de designações desadequadas que acabariam por ficar retidos na memória. Daí que não é possível recordar com exactidão materiais dos quais foram atribuídos significados inexactos. Recentes investigações mostram o facto das deformações ocorrerem na forma como as percepcionamos e não na mudança do traço da memória. Mas as alterações no desaparecimento do traço da memória podem também ter a ver com as capacidades internas, como os significados que atribuímos ou com fantasias que temos.
O esquecimento também é afectado pelas interferências de novas aprendizagens. Distinguem-se duas formas de interferências. A inibição proactiva correspondente à influencia negativa que a aprendizagem tem sobre a recordação de uma nova informação. Diferentemente, a inibição retroactiva corresponde ao efeito negativo que a informação nova tem sobre a anterior, podendo acabar por esquecer a recordação do passado devido à utilização de recalcamentos presentes. Neste caso, o processo de interferência aumenta o exercício.
A motivação do inconsciente, segundo Freud e a sua teoria sobre o psiquismo humano, o ser humano esquece, inconscientemente, o que lhe convém esquecer. A sua explicação para tal baseia-se na sua noção de recalcamento, isto é, as recordações dolorosas eram inibidas, mantendo-se as recalcadas por acontecimentos traumatizantes no inconsciente. O esquecimento teria portanto um carácter selectivo, mantendo-se as angústias na zona inconsciente do psiquismo. Com os impactos negativos submersos as pessoas manteriam o seu potencial dinâmico, acabando por influenciar os seus próprios comportamentos. Tudo isto, acrescentando ao facto da resistência pessoal impedir que as lembranças menos agradáveis sejam evocadas na consciência.
Portanto o esquecimento não é apenas o quociente entre a retenção e a memoria, antes resulta da convergência de diferentes factores. Actualmente as interferências da aprendizagem da experiência influenciam a vida social ao ponto de grande parte das pessoas não conseguir recordar-se do passado, devido ao facto da sua memória ter sofrido modificações por acumulação de demasiada informação. Assim uma boa memória é útil, mas a capacidade de esquecer é indispensável a cada identidade humana.

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